15 de julho de 2007

Devaneios Citadinos

Fim de tarde!
A cidade é escoada para os arredores em carros e transportes públicos que deixam para trás um fumo que enegrece e entristece a cidade cada vez mais só. A multidão quase corre numa ânsia sôfrega de que o tempo passe à velocidade dos pés e o sofá fique mais perto de desfrutar.
Sou uma deles! Transpiro calor e cansaço numa aflitiva espera pelo autocarro, atrasado com sempre. A ouvir a minha música de sempre que varia entre o triste e o repetitivo e vai agudizando o meu estado de espírito. Observo os meus companheiros de "cela".
Uma senhora na casa dos "entas", com cara de quem vive numa aldeia dos arredores desde que se conhece, desabafa a sua vida num tom de reza que faz com que as pessoas levantem a sobrancelha. Tem vestidas umas roupas um pouco do século passado, de saia e uma camisa demasiado folclórica que lhe conferem um ar caricato. É a mais apelativa naquele pequeno leque de população trabalhadora e estudantil que espera e desespera naquele final de dia de trabalho estafante e monótono.
Finalmente chegou o maldito transporte colectivo e, para variar, vem a abarrotar. Um misto de vozes e cheiros nem sempre agradáveis. Demasiada gente de pé aos trambolhões, uns contra os outros. O espelho da sociedade. Encosto-me de pé a uma janela e observo a vida do lado de fora. Já passa uma brisazinha e o sol começa a esconder-se no horizonte. A cidade mergulha num mar de poeira e néon dos anúncios luminosos.
Passo pela zona mais actual da cidade e mergulho no antigo e belo, nos locais que me fazem amar esta cidade que é minha. Arcos do jardim, Jardim da Sereia, Praça da República. A cada paragem alguém suspira, alguém olha repetitivamente para o relógio, alguém sai, alguém entra. E eu deixo-me ficar a passear nos meus pensamentos e saudade de sempre agravadas pelos locais, pelas músicas, pelos suspiros.
Desço na paragem do Jardim da Manga juntamente com uma grande massa que sai desordeiramente sem respeitar ninguém. Sigo o meu caminho a brincar com os passos, a andar distraída pelos desenhos da calçada, bem no meio da rua, praticamente sozinha, visto que a maioria das pessoas que ainda circulam prefere quase colar-se às montras das lojas e olhar para o chão como quem se esconde da vida. Um rapaz de olhos verdes aguados e tristes tenta incutir um autocolante de uma associação qualquer a uma senhora cheia de sacos de compras que, friamente, lhe atira a frase de sempre, "Não tenho dinheiro nenhum!". Antagónico no mínimo. Mais à frente um velhinho deitado num banco de jardim. Roto e sujo, que me aflige e entristece. Olho à volta na esperança de encontrar a paz que me seduz. Nestes momentos em que a realidade nos assalta dá uma vontade imensa de abraçar a felicidade, os amigos, para ter a certeza de que tudo está bem, pelo menos para nós!
Chego à Portagem e olho para noroeste de frente para o rio e vejo um lugar que me lembra o "Nós" de que sinto saudade. Oiço os risos, estendo os braços para os abraços, sinto o "click" da máquina fotográfica, cheiro a felicidade e fico por momentos ali, paralisada à espera do que não volta. Até que um barulho me chama a atravessar a estrada e continuo, pela ponte de Santa Clara. Olho o ondular calmo e triste do rio cada vez mais negro que susurra uma história de amor a cada passagem suave do vento.
Por fim sento-me num banco do Estádio Universitário à espera que o tempo passe e chegue a hora de mais um treino, onde se fala mais do que se exercita. Daqui vejo toda a cidade. A torre da Universidade, a Sé Velha, a Sé Nova, entre outras casa e monumentos que desmaiam sobre o Mondego como uma multidão cansada e desalenta. Farta de ver, farta de sentir, farta de sorrir, farta de ouvir, farta de contar, farta de beber, farta de saber. Cansada de Velha!

Texto escrito no âmbito da disciplina de Português - 11ºano

1 comentário:

Anónimo disse...

Pura e simplesmente adorei este texto! Acredita sempre nas tuas capacidades e vais ver que vais ser bem sucedida! Espero que sejas sempre fiel a esta tua corrente de pensamentos no que toca a organização das ideias. Se assim for terás um fã de todo o teu trabalho deste outro lado da linha! Beijo e boa sorte para o teu futoro.
Afonso Neto *