26 de abril de 2008

Montávamos uma tenda pequenina, daquelas tipo iglo de esquimó, no meio do nada. Quem sabe num sítio onde se pudesse ouvir o mar e o vento. Fazíamos uma fogueira pequena e jantávamos fruta (quem sabe até encontrasse na mala um 'fazedor' mágico de chantilly). Jogávamos cartas e ríamos das nossas batutices e das conversas que não têm nada a ver com nada. Quando os olhos começassem a pesar deitávamo-nos lá dentro, debaixo de uma mantinha e depois a vontade dir-nos-á até onde ir. Passava-te as mãos no cabelo sempre curto e afagava-te a cara entre as duas palmas puxando-a para mim até te tocar nos lábios com um beijo terno. 'És tão lindo!'.
Acordávamos e saíamos da tenda. Tu, calorento, com uma t-shirt e eu com uma daquelas camisolas largas e fofas que fazem lembrar abraços. A brisa fresca convidáva-nos a beber um café daqueles à canecada, de cevada, bem quentinhos. Sentava-me ao teu lado, no chão, com as pernas dobradas contra o peito e, com as mãos cobertas com a camisola, saboreava aquele café a ver o mar pelo contorno do teu perfil. Mais tarde passeávamos na praia e dávamos uns bons mergulhos com uns beijinhos salgados e uns abraços molhados. Quando te tentasses secar eu enroláva-te na areia até ficares a parecer um saboroso croquete. Ao almoço estendiamos uma toalha daqueles aos quadradinhos vermelhos e brancos nas dunas. Bebíamos sumo de melancia, comíamos salada e um peixinho grelhado (eu fazia o esforço se me tirasses as espinhas do animalzinho e não me mostrasses as ovas!). Mais tarde veríamos o pôr do sol laranja e vermelho no horizonte e tirávamos fotografias.
E éramos felizes ali, até querermos, até nos cansarmos da imensidão do mar e do amarelo dos muitos grãos de areia, até a pasmasseira de uma vida só a dois nos fazer imbirrar com os barulinhos de quando bebemos água, mastigamos ou ressonamos.
Foges comigo?

Há coisa melhor neste mundo do que o sol a bater-nos na cara e a fazer-nos fechar os olhos abrindo aquele sorriso idiota com os dentes todos ?