29 de outubro de 2007

Que saudades minha querida de ver esse teu sorriso rasgar essas grandes bochechas gordinhas; de te ver chegar da escola a falar muito, imenso; de te ver dançar sem vergonha, sem medo dos que te olham, apenas porque tens um sonho; de te ver implorar que te vão deitar e aconchegar os lençóis sem nunca confidenciares o pavor que tens do escuro e da solidão; de te ver agarrada ao pescoço da mãe e da avó e do pai. Que saudades...
E pensar que não te volto a ver, nem a sentir. Agora pertences à memória oral de todos os que te conheceram e tomaram como especial, como eu. Ficas no papel brilhante impresso a cores nas tuas melhores poses e melhores momentos: desde que vieste ao mundo até que cresceste de vez e deixas-te de precisar que te deitassem e aconchegassem.
Que saudades minha querida ...

21 de outubro de 2007

Amarelo? Triste é vestir amarelo sem sentir amarelo quando a sala, a casa e tudo ficam vazias de vozes, de risos, de abraços. É beber café sem lhe sentir o gosto e o quente das conversas com a avó. É fechar os braços sem sentir um abraço.
A noite leva-me a vontade, o sorriso e a capacidade para gesticular palavras num texto com nexo.
Amanheceu, está frio. Um frio que enrigece e fixa o cinza do vazio. Os raios de sol não se espreguiçam até tocar no meu rosto e nos meus caracóis desfeitos, não me trazem o amarelo nem devolvem o sorriso néctar.
Levanto-me a custo, rastejo-me até à aula e na sala só consigo ouvir uma voz, ao fundo, com uma conversa que não me entra nem me faz sentido.
Vendem-se certezas? É que eu preciso de algumas

Só queria mesmo dizer que tenho saudades dos meus amarelinhos ...

15 de outubro de 2007

Da janela vejo janelas, pequeninos quadradinhos de luz alinhados e mudos. Na rua passa um carro aqui e outro ali, de vez em quando. Os semáforos estão de um amarelo indeciso. Já te disse que as cores desmaiam quando te vais embora? E o silêncio se torna barulhento e perturbador dos sentidos? Há tantas coisas que nos esquecemos de dizer, não é? Estamos sempre demasiado preocupados em consumir os minutos, os segundos da forma mais sôfrega. Quando te vais embora é que me lembro de tudo o que te devia ter dito e não disse. Por isso tenho sempre saudades tuas, do teu cheiro, dos teus olhos, do teu quentinho.
Amanhã é "o primeiro dia do resto da minha vida" e como eu gostava que subisses aquelas escadas de terra batida e à entrada me desses um beijo na testa para eu me sentir forte.
As surpresas existem, sabias?