20 de fevereiro de 2008

Abri a janela da sala para deixar entrar o frio e renovar o ar pesado da manhã que houve aqui. Gosto de sentir os ossos gelar e ver os pêlos dos braços iriçar como os de um gato para depois conseguir dar valor à mantinha e ao sofá e a esta casa de paredes mal pintadas. Diz-se por aí muitas vezes que só se dá valor ás coisas, ás pessoas, quando já não as temos. É verdade e não há quem não o saiba mas só quando o frio nos gela é que sentimos o quanto conforta o calor. Só quando te vais embora com um "xau" vazio é que me grita o teu silêncio e a tua ausência, é que bato os pés, esperneio e atiro perguntas para o ar sem resposta.
Eu sei que voltas! Ou serei só eu que não vivo sem ti?

9 de fevereiro de 2008

Sento-me num banquinho à lareira. Todos naquela sala que já não me conforta se emaranharam no emaranhado de cada uma das suas vidas. Desisti que os nossos dias se encontrassem, que os sorrisos fossem pelos mesmos motivos, que as trocas de ideias fossem feitas em tom médio e nunca num gritante conflito. Desisti que voltássemos a ser familia. Entreti-me sozinha na chama, fiz passear as minhas mãos por ali com dedinhos sonhadores de bailarina, apertei os caracóis desajeitadamente com um lápis que apanhei na mesinha para sentir o quente no pescoço despido, fingi de olhos fechados que conversávamos e ríamos e nos abraçávamos e nos interessávamos pelo dia-a-dia de cada um.
Se eu tivesse três anos e a idade dos 'porquês' me estivesse a atacar eu perguntaria à minha mãe agarrando-lhe as pernas: mãe, porque é que as pessoas mudam?
Mas, sem resposta, já só me resta a lenha em brasa cor vulcão dentro da caixinha de porta de vidro para me aquecer nestes dias de inverno com os dias contados.

1 de fevereiro de 2008

Não entendo esta mania que o sol tem de se esconder atrás das nuvens feias de cinza que surgem sem avisar e me apagar aquele amarelo quentinho. Não gosto. Acabo por tirar o arco iris do pescoço e o sorriso néctar da cara. Levanto-me da relva, corro para o rio e atiro uma pedra bem grande para ver se o magouo, em vão.
Voltei para as minhas quatro paredes sem pressa naquele metro cheio. O betão era de uma cor triste como as nuvens, a poluição não fugia à regra, o ruído não passava de a banda sonora condizente. Tu não vieste. Não tive a tua mão para apertar nem o teu abraço para me proteger do frio que se começava a fazer sentir. Eu entendo: até tu, que és perfeito, tens o teu limite de paciência e eu tenho abusado da tua, tenho sido casmurra e triste nas palavras.
Enrrosco-me na mantinha azul piroso, ligo a maquineta quadrada da manipulação em massa, vario entre os canais nacionais e acabo por desligar. Fui buscar a maldita caixa que tem um mundo dentro e cometi o erro de a abrir. Está tão cheia de ti que parece que me deram um murro cá dentro do peito e me martelaram a cabeça. Só nos via deitados na relva, a rir, a conversar ...
Primavera volta!