9 de fevereiro de 2008

Sento-me num banquinho à lareira. Todos naquela sala que já não me conforta se emaranharam no emaranhado de cada uma das suas vidas. Desisti que os nossos dias se encontrassem, que os sorrisos fossem pelos mesmos motivos, que as trocas de ideias fossem feitas em tom médio e nunca num gritante conflito. Desisti que voltássemos a ser familia. Entreti-me sozinha na chama, fiz passear as minhas mãos por ali com dedinhos sonhadores de bailarina, apertei os caracóis desajeitadamente com um lápis que apanhei na mesinha para sentir o quente no pescoço despido, fingi de olhos fechados que conversávamos e ríamos e nos abraçávamos e nos interessávamos pelo dia-a-dia de cada um.
Se eu tivesse três anos e a idade dos 'porquês' me estivesse a atacar eu perguntaria à minha mãe agarrando-lhe as pernas: mãe, porque é que as pessoas mudam?
Mas, sem resposta, já só me resta a lenha em brasa cor vulcão dentro da caixinha de porta de vidro para me aquecer nestes dias de inverno com os dias contados.

1 comentário:

Alexandra Bigotte de Almeida disse...

Ultimamente a mesma pergunta me vem à cabeça "porque é que as pessoas mudam?". E a resposta é toujours a mesma "(silêncio)".
Sabes Nini..às vezes a resposta dói mais que o sofrimento da dúvida permanente. Se bem que acaba por ser preferível...