11 de dezembro de 2007

Parei de repente, ilucidei-me da paisagem que está fora da janela, tomei conta das formas rectangulares dos prédios simétricos, do intervalo irregular das luzes em quadrados de vidro, do piscar indeciso dos semáforos, dos enfeites pirosos mas natalícios, do escuro do céu desencantado de inverno. Dei um golo na cevada solúvel que já só sabe a saudade das gargalhadas e daquele abraço de quando "Vamos a casa da avó". Olhei para a novela e não ouvi comentários, nem perguntas do género "mas esta é casada com quem afinal?". Ninguém me disse "são horas de ir para a cama!", nem "Ajuda-me a tirar a mesa!". Não lutei com ninguém por uma mantinha nem por um banco à lareira. Não sujei a sala de cascas de castanhas. ...
Apercebi-me, como se fosse a primeira vez que olhasse o exterior, que vai ser isto que vou ver por tempo incerto. Já não vão ser aquelas árvores gigantes, desfolhadas e assombradoras a agitar-se ao vento, nem a linha quase perfeita de luzinhas que vou ver para lá da cortina do meu quarto pequenino e quente. É como se estivesse escrito lá fora, num outdoor a letras garridas e grandes, "O que foi não volta a ser...". Descortinei que se perde sempre qualquer coisa para se ganhar uma mão cheia delas!

2 comentários:

nobre disse...

Sempre que quiseres convidas-me e eu vou a tua casa mandar te por a mesa e dizer "xixi, cama" assim como quem não quer a coisa. Não te preocupes, estás em Lisboa, estás comigo, estás com Deus.

LiLi disse...

porque pensas que perdes te tudo isso? a vida muda e tu mudas as coisas nao ficaram iguais para sempre é certo, mas tu podes fazer com que te sintas da mesma maneira em situações diferentes. =D eu tambem estou em LX contigo ^^ bjo